Ciborgues, rebeldes e florestas de dados: o que a IA realmente nos reserva

‍Descubra quais são as “previsões Maverick” do Gartner, aquelas ideias ousadas que desafiam tudo o que a gente considera “normal” sobre o futuro da tecnologia.

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Vivemos sob a "tirania do pragmatismo". Toda nova iniciativa precisa de um ROI imediato, toda ideia precisa de uma aplicação prática instantânea. Esse foco implacável no agora sufoca o pensamento criativo, visionário e ambicioso. Não é de surpreender, então, que depois de anos de entusiasmo com a IA generativa, o resultado mais comum em muitas organizações seja uma ferramenta que... resume reuniões.

Segundo Frank Buytendijk, Distinguished VP Analista e integrante da equipe de Tendências e Tecnologias Emergentes do Gartner que palestrou na Conferência CIO & IT Executive, nossa ambição precisa ir além. Para isso, na palestra Maverick Research: O Futuro Distante Segundo as Pesquisas Maverick do Gartner, ele mergulhou em algumas das histórias "e se" mais estranhas, selvagens e malucas do Futures Lab da Gartner. O objetivo não é prever o futuro, mas sim esticar as mentes do público para encontrar novas ideias para o presente.

O futuro chegou cedo demais: testemunhas de ia no tribunal

Em 2035, o testemunho de uma recriação de IA de uma pessoa falecida será aceitável em tribunal. Quando o analista Nick Jones propôs isso, a reação geral foi que era algo estranho, selvagem e improvável. O problema? Ele estava errado sobre o prazo. Não levaria uma década. Aconteceu em maio de 2024.

Em um caso no Arizona, a família de um homem morto em um acidente de carro usou seu tempo de fala para apresentar um vídeo gerado por IA. Nele, uma recriação de seu filho falecido se dirigia diretamente ao juiz e ao júri. Embora não fosse um testemunho formal, a família usou o tempo de fala que lhe era concedido para que a recriação de seu filho se dirigisse ao júri e ao juiz.

Isso nos mostra uma lição crucial: às vezes, as coisas estranhas, selvagens e malucas estão mais próximas do que pensamos. Essa realidade fundamenta as ideias mais especulativas que se seguem.

A rebelião contra a IA é inevitável (e pode ser silenciosa)

Após todo o entusiasmo, uma reação negativa contra a IA está a caminho. Em um mundo obcecado por IA, a ideia de uma rebelião parece contraintuitiva. No entanto, com 62% das pessoas esperando que o mundo esteja pior em uma década, o sentimento negativo já está presente. A IA não é apenas uma tecnologia; é um fenômeno sociológico que muda a forma como nos relacionamos uns com os outros. E essa mudança pode gerar resistência.

Considere estes cenários "e se":

• 2028: 30% dos projetos de IA fracassam devido à "subversão silenciosa" por parte dos funcionários que não querem mais cooperar.

• 2035: O impacto econômico e social da IA desencadeia um movimento antitecnológico global, com pessoas se opondo ativamente à tecnologia que piora suas condições de trabalho.

• 2040: Alguns países impõem proibições nacionais ao uso de tecnologias de IA para determinados fins, seja por preocupações com privacidade (como na Alemanha) ou para proteger os direitos trabalhistas (como na França).

Mas essa resistência social é apenas uma parte da história. A verdadeira revolução acontece quando a IA deixa de ser uma ferramenta externa e começa a se fundir com a nossa própria biologia.

Seu corpo é a próxima plataforma de computação

A escola de pensamento conhecida como Transumanismo argumenta que sempre usamos a tecnologia para nos aprimorarmos. Dos óculos aos implantes cocleares, a tecnologia está cada vez mais próxima de nossos corpos. O próximo passo lógico? Chips cerebrais e interfaces que nos conectam diretamente à computação. "A coisa mais humana que podemos nos tornar, na verdade, é ser um ciborgue, porque é o nosso caminho evolutivo."

Essa ideia abre uma caixa de Pandora de cenários "e se" provocativos e controversos:

• Aprimoramentos neurais disponíveis apenas para os ricos, criando uma divisão cognitiva decisiva entre os "aprimorados" e os "não aprimorados".

• Uma "opção econômica" de interface cérebro-computador que exibe anúncios diretamente na mente de pessoas de baixa renda.

• Ser "não modificado" se torna um símbolo de status de autenticidade, valorizado em profissões que prezam por mentes "não contaminadas", como diplomatas ou artistas.

• Trabalhadores do conhecimento são pagos apenas pelo tempo que passam pensando ativamente sobre seus empregos, com suas atividades cerebrais sendo monitoradas para garantir a produtividade.

Da nuvem de dados para a floresta de dados

Usaremos material orgânico, como o DNA de plantas e árvores, para armazenamento e computação de dados. Esqueça a nuvem de dados (data cloud); bem-vindo à floresta de dados (data forest).

Esta é a personificação do pensamento verdadeiramente futurista, pois busca a síntese combinando dois opostos: o poder de computação (ruim para o meio ambiente) e as plantas/árvores (boas para o meio ambiente).

Mas isso levanta uma questão ética profunda. Pesquisas sugerem que as árvores em uma floresta estão conectadas por redes de raízes, comunicam-se entre si e possuem uma forma de inteligência coletiva. Se for esse o caso, é permissível para os seres humanos usar essa rede para nossos próprios fins de computação?

E, claro, há o problema prático, com uma dose de humor: "um cervo que come um galho de um arbusto e seu histórico médico desaparece."

E agora, o que fazer?

O objetivo desses cenários não é adivinhar o que acontecerá. É usar o "pensamento do Horizonte 3" (imaginar futuros radicalmente diferentes) para então trabalhar de trás para frente e gerar novas ideias para hoje. Segundo Buytendijk, é uma ferramenta para escapar da tirania do pragmatismo.

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